Um ano depois, Taboão da Serra ainda espera respostas sobre o falso atentado contra Aprígio

Editorial do Portal O Taboanense
Há exatamente um ano, o barulho dos tiros atravessou Taboão da Serra como uma rajada em toda a cidade. Era sexta-feira, 18 de outubro de 2024, e o então prefeito José Aprígio, candidato à reeleição, estava em campanha. O município, já saturado de tantos desmandos, assistiu atônito às primeiras imagens: um carro blindado crivado de balas, um prefeito atingido por uma bala de fuzil, gritos de desespero e vídeos circulando em ritmo frenético nas redes sociais.
Taboão da Serra mergulhou em um pesadelo coletivo. Uns choravam, outros duvidavam e todos se perguntavam: quem teria coragem de tentar matar um prefeito no meio da campanha eleitoral? Ou pior, será que alguém teria coragem de simular isso?
Nos dias seguintes, o drama virou espetáculo. Políticos se revezaram em discursos sobre paz e democracia, o clima de comoção tomou conta das ruas e os aliados de Aprígio organizaram caminhadas em sua defesa. A cidade, pequena em território, mas gigante em intensidade, virou manchete nacional. O nome “Taboão da Serra” era pronunciado em todos os telejornais, e mais uma vez não por uma boa razão.
Aprígio ficou internado por uma semana, se recuperou, e voltou à campanha como sobrevivente de um suposto atentado político. Mas o povo não se comoveu como se esperava. As urnas falaram: Engenheiro Daniel foi eleito com 66% dos votos. O tiro, literal ou simbólico, não acertou o alvo eleitoral.
Meses depois, a verdade começou a sair do escuro. A polícia e o Ministério Público revelaram o que parecia impensável: o atentado havia sido forjado. Os executores confessaram o plano. E Taboão da Serra, de repente, percebeu que tinha sido enganada, não apenas politicamente, mas emocionalmente.
Naquele instante, o escândalo deixou de ser apenas policial. Virou moral. Taboão da Serra inteira se viu diante do espelho e não gostou do reflexo. O episódio escancarou uma ferida: a política, que deveria ser um instrumento de transformação, havia se transformado em teatro, um teatro macabro, encenado com sangue e cinismo.
Um ano depois, ainda restam perguntas que ecoam pelas ruas e pelos corredores da cidade Quem mandou atirar? Quem escreveu o script dessa vergonha? Essas perguntas continuam suspensas no ar, feito balas que nunca caem.
O silêncio ainda sangra. A cidade, que aprendeu a sobreviver a enchentes, violência, promessas quebradas e tantas manchetes tristes, ainda tenta sobreviver à sua própria decepção. Não há cratera mais profunda do que a da confiança. E a cada dia sem respostas, esse buraco cresce um pouco mais.
E se a verdade ainda não apareceu (ainda), que ao menos a memória não se cale. Porque há mentiras que adoecem o tempo, mas há lembranças que salvam a história. E essa, Taboão da Serra não pode esquecer.
Um ano depois, o silêncio ainda pesa sobre Taboão da Serra como uma névoa que não se dissipa. A Polícia Civil e o Ministério Público caminham entre papéis e processos, enquanto a cidade continua esperando por algo mais simples: a verdade. As ruas já não ecoam gritos nem discursos, mas guardam um ruído surdo: o da desconfiança.
Porque há feridas que o tempo não cura, apenas ensina a suportar. E essa, aberta no dia em que o poder encenou a própria dor, continua latejando no coração de quem acredita que justiça e memória não deveriam ser palavras esquecidas. Um ano depois, o que o povo de Taboão da Serra pede não é vingança, é luz. Que alguém, enfim, tenha coragem de apontar quem escreveu o roteiro dessa mentira que feriu uma cidade inteira.