Os avós nos ensinam o que é ser permanente em tempos líquidos

Por Fredi Jon
Num tempo em que o toque virou emoji, o encontro virou link e o “eu te amo” pode ser digitado sem sequer ser sentido, há uma presença que resiste — silenciosa, muitas vezes invisível, mas absolutamente essencial: a dos avós.
Os avós são os guardiões da nossa memória afetiva. São a raiz que segura a árvore da família mesmo nos vendavais. São eles que seguraram o mundo no colo para que outros pudessem caminhar. Com mãos que já trabalharam muito e hoje tremem de ternura, moldam uma pedagogia da delicadeza que vai desaparecendo no barulho das notificações. Entre histórias repetidas à mesa, orações sussurradas à noite e receitas passadas “de olho”, nos ensinam a arte esquecida do cuidado.
Em tempos líquidos, são âncoras. Em tempos imediatistas, são o tempo da espera. Em tempos ruidosos, são o silêncio que acalma. Em uma era que idolatra juventude, performance e produtividade, os avós permanecem como uma espécie de resistência afetiva. Um contraponto sereno a um mundo que corre sem saber pra onde.
Eles não nos oferecem likes, resultados ou metas. Eles nos entregam presença — esse dom sagrado que o mundo anda tratando como desperdício. E isso, no fundo, é revolucionário.
Por isso, quando um neto decide oferecer uma serenata aos avós, não está apenas oferecendo um gesto bonito. Está proclamando um manifesto. Um ato de gratidão e de retorno. Cantar para quem nos embalou a alma antes mesmo de sabermos quem éramos é como tentar nomear o inominável: uma tentativa comovida de retribuir o que nunca coube em palavras.
Serenatas aos avós resgatam a beleza do gesto livre. Em vez de curtidas, aplausos com olhos marejados. Em vez de stories de segundos, memórias que atravessam décadas.
Em vez de um presente genérico comprado às pressas, o dom mais raro de todos: o tempo. Um tempo doado em forma de afeto, melodia e presença.
É curioso pensar que, enquanto corremos atrás de inteligência artificial e realidade aumentada, aquilo que verdadeiramente nos sustenta emocionalmente continua sendo profundamente analógico: o cheiro de café na cozinha, os bolinhos de chuva nas tardes de sol, a mão enrugada do avô segurando a nossa. A música que toca e, por um instante, faz o tempo parar.
E se um dia eles partirem — e partirão, como partem todos os que carregam o tempo nos ombros —, o amor deles não parte. Apenas muda de lugar. Passa a morar em nós. Na forma como olhamos o mundo. Na delicadeza de um gesto. Na paciência de um abraço. Na maneira como vamos amar os nossos filhos e netos.
Por tudo isso, talvez cantar para os avós seja mais do que uma homenagem. Seja uma oração sem palavras. Um agradecimento profundo, por tudo o que eles foram, são e ainda serão em nós. Porque em tempos em que tudo é passageiro, eles — ah, eles nos ensinam o que é permanecer.
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