Morador de Taboão apedrejou ônibus para “consertar o Brasil”: delírio de repetição das “Jornadas de Junho de 2013”?
Por Dr. Antônio Rodrigues
A cidadania tradicionalmente expressa descontentamento com a situação do país votando nas eleições, promovendo atos políticos pacíficos, interagindo nas redes sociais, criando memes etc. Um morador de Taboão da Serra, no entanto, alega ter decidido se manifestar de modo mais drástico.
Segundo contou à Polícia Civil, marretadas e pedradas nos para-brisas e janelas dos ônibus do transporte público coletivo da Grande São Paulo foram as maneiras supostamente adotadas por Edson Campolongo para “protestar contra a situação política do país”. Com ressalva de que não está comprovada sua participação em todos os ataques, a iniciativa resultou em 813 atentados, em 27 cidades, incluindo Taboão e Embu da Artes, entre 1º de junho e 21 de julho.
Ao ser preso, Edson não negou os crimes, ao contrário, confessou ao menos 17 apedrejamentos de ônibus. Em seu depoimento, o pretenso salvador da pátria declarou à Polícia que praticou os atos porque “queria consertar o Brasil”. Veja mais em Identificado autor dos ataques aos ônibus
A inspiração do pensamento delirante parece óbvia: dada a importância no cotidiano de milhões de pessoas, o transporte público é um gatilho capaz de deflagrar a mobilização social instantânea nas grandes metrópoles. Lembremos das “Jornadas de Junho de 2013”, coincidentemente o mesmo mês escolhido para início dos ataques aos ônibus: um protesto que começou por causa do aumento da passagem dos transportes em São Paulo, sob o lema “não é por 20 centavos”, em poucos dias escalou para confrontos com a polícia e se ampliou nacionalmente, contribuindo para a crise que levou ao impeachment de Dilma.
No caso dos ataques criminosos iniciados por Edson contra os coletivos, todavia, a resposta da população foi o merecido repúdio aos atos de vandalismo e o clamor por justiça para os responsáveis.
Enquanto o “ativista marreteiro” aguarda a Justiça, é importante lembrar que apesar de tanta falação sobre “consertar o Brasil” – seja com correntes de WhatsApp, bombas, pedradas ou marretas ?, é preciso diferenciar condutas altruístas que realmente visam melhorar o país de práticas reprováveis cujo objetivo é tão somente fazer prevalecer as ideias de quem as promove.
Sobretudo, é preciso repetir à exaustão que os fins não justificam os meios. A violência aplicada à política, em geral, apenas substitui um poder por outro. A verdadeira emancipação surge da educação e da mobilização social pacífica, não da imposição pela força, e mudanças estruturais exigem diálogo, organização coletiva e políticas inclusivas.
Uma última reflexão: não há dúvida de que quem depreda ônibus do sistema de transporte público têm que ser responsabilizado pela Justiça, todavia, ainda há gente em dúvida quanto ao destino merecido por quem planeja e/ou executa atos violentos contra o patrimônio público e contra as instituições do Estado Democrático de Direito. Difícil de entender, né?
