EDITORIAL: Um cemitério vertical na Chácara Agrindus não condiz com a realidade de Taboão da Serra
Editorial, a opinião do Portal O Taboanense
A proposta de instalação de um cemitério vertical de cinco andares na Chácara Agrindus, próximo ao Jd. Maria Rosa, reacendeu um debate urgente sobre planejamento urbano, qualidade de vida e o papel da cidade na proteção de seus moradores. Depois de analisar os impactos, ouvir moradores, acompanhar a reação da população e estudar o entorno, o Portal O Taboanense se posiciona contrário à construção no local escolhido.
Além do impacto urbano imediato, há também efeitos silenciosos, porém profundos: a desvalorização imobiliária e o dano emocional aos moradores do entorno. Famílias que dedicaram anos de trabalho para construir ou adquirir suas casas correm o risco de ver seus imóveis perderem valor e se tornarem mais difíceis de vender.
A simples presença de um cemitério de vários pavimentos ao lado de residências altera a paisagem, a atmosfera e até o bem-estar psíquico de quem vive ali. Moradia é abrigo, é segurança, é conforto e ninguém deve ser forçado a conviver diariamente com uma estrutura que pode provocar angústia, tristeza ou desconforto emocional.
Esse sentimento, inclusive, não é isolado. Um abaixo-assinado com mais de seis mil assinaturas mostra que a resistência da população é clara, legítima e profundamente enraizada no cotidiano do bairro. A população não está reagindo por impulso; está reagindo porque conhece melhor do que qualquer parecer técnico as limitações e vulnerabilidades do território em que vive. Ignorar essa percepção seria um erro grave.
É preciso também lembrar que este não é um projeto público, mas um investimento privado em uma área particular. O direito de empreender, porém, não pode se sobrepor ao interesse coletivo. Toda cidade tem zonas que suportam determinados tipos de equipamentos urbanos, e outras em que eles simplesmente não se encaixam. É exatamente isso que ocorre nesta situação: não se discute apenas a construção de um cemitério vertical, mas onde ele está sendo proposto. E, neste caso, o local não é adequado.
A audiência pública convocada pela Prefeitura é um passo necessário para legitimar o processo e dar força jurídica à manifestação popular. Ela não é um gesto simbólico; é uma ferramenta prevista em lei para impedir que um empreendimento inadequado avance mesmo quando cumpre formalidades burocráticas. A administração municipal reconhece seus limites legais, mas também demonstra claramente que está alinhada à população na defesa do interesse público.
A região indicada para receber o empreendimento já sofre com graves problemas de mobilidade, densidade populacional elevada e uma infraestrutura viária que opera no limite. A Avenida José Dini é uma das mais movimentadas do município, com fluxo intenso de veículos, comércio, escolas e serviços essenciais.
Inserir ali um equipamento urbano de grande porte, que exige operações funerárias constantes e atrai grande circulação de pessoas em datas específicas, agravaria ainda mais um cenário que já é delicado. Não é razoável ampliar o estresse viário de uma área que não comporta o fluxo atual, muito menos o que viria com um cemitério vertical deste tamanho.
Diante de tudo isso, o Portal O Taboanense reafirma sua posição: o cemitério vertical não deve ser construído na Chácara Agrindus. A cidade precisa crescer com responsabilidade, sensibilidade e respeito aos moradores que construíram sua história ali. Desenvolvimento não pode ser sinônimo de pressão, angústia ou perda de qualidade de vida. O progresso real é aquele que dialoga com as pessoas e não que se impõe a elas.
Taboão da Serra merece escolhas que cuidem da vida, do bem-estar e do futuro de quem chama essa cidade de lar.