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28 de agosto de 2005

E aí, Varejeira?

Eduardo Toledo

Por Marco Pezão

Ele chegou praticamente recém nascido à casa do aposentado oficial militar, que, para alimentá-lo, quebrava a casca do girassol e servia a semente no bico do pequeno papagaio. Tenente reformado, Adolfo trabalhou muitos anos na ROTA, a temida Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, que marcou época durante a ditadura militar.

Mesmo a vivência sob duro regime, de certas e possíveis arbitrariedades. Difícil imaginar esse senhor cometendo alguma. O que se supõe na obscuridade do rígido sistema não foi capaz de moldar nele resquício de maldade, tal é sua forma de ser. O relacionamento com a vizinhança. O apego com o filho e neto. O riso fácil que o transforma emérito brincalhão em qualquer roda que chega. Até a desconfiança, peculiar à farda da justiça, abrigou-se em desuso feito o coturno envelhecido.

A aposentadoria lhe trouxe convivência despreocupada, não que ganhasse muito. Pelo contrário. Mas a comedida soma mensal o permite saborear incontáveis cervejas diárias, acompanhadas do inseparável quebra gelo. Nos bares goza de amizades várias, promovendo cotidianamente o churrasco temperado pra passar o tempo em meio ao carteado. Àqueles que não colaboram e ficam próximos à churrasqueira afim de algum naco, taxou-lhes o apelido de varejeira, ou seja, mosca da carne. E o sarro pelo vulgo foi tanto que o papagaio já com dois anos de criação, falante ao extremo, reproduz claramente a indagação. Ao tratá-lo e mimá-lo com carinho, carregando-o no ombro ou na mão, ouviam o penacho dizer: “E aí, Varejeira?”.

Aconteceu que na tarde chuvosa de inverno aparece um rapaz na rua, perguntando a dois garotos da redondeza se por ali alguém tem um papagaio? Informado, segue à porta do oficial e relata a história de que, num momento de distração, o seu papagaio, ainda arredio, voou e estava na árvore de um terreno baldio próximo dali. E para capturá-lo precisava de outro que atraísse sua atenção. O prestativo homem crê na conversa, e no auxílio leva o sonoro: “E aí, Varejeira?”

Lá chegando, em vista do mato crescido e a insistente garoa, fica a distância. Enquanto isso, o jovem simula encenação. Sob a copa, em posse da gaiola, grita: “Ele voou pro outro lado da rua”. E correndo ganha sumiço, dobrando a primeira esquina.

Passado um ano desse infortunado episódio, conversamos em frente ao local do “crime”. Ele relembra ainda inconformado: “Como é que pode? Tantos anos caçando bandidos. Conhecendo malandro de tudo que é jeito. Um pirralho. No bico doce enganou a mim e levou meu papagaio”.

Fica o apelo, se o caríssimo leitor ao andar pelas cercanias de Taboão ouvir de um loureiro a especial tagarelice, comunique-se com este cronista. Não há gratificação, mas o nosso amigo tenente próximo de completar 70 anos, agradece.

Do fato em si salva-se que, embora a objetividade não esteja mais aguçada, o samaritano não perdeu o humor e nem mudou o comportamento, apesar do jocoso chamamento que desde então, ao invés de Adolfo, passou a ser sua alcunha: E aí,Varejeira?


Marco Pezão, é jornalista, cronista, poeta e colaborador do O Taboanense

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