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12 de agosto de 2010

Como nasce um Taboanense

 

Essa onda de frio que assola o país nessa semana me fez lembrar de uma coisa que aconteceu comigo logo que cheguei aqui em Taboão, há quinze anos. Não foi amor à primeira vista. Lembra-se de Caetano em Sampa?: “… é que narciso acha feio, o que não é espelho…”, pois é, foi assim também quando cheguei.

A cidade nunca me pareceu feia ou fria, ou coisa assim, apenas era estranha pra mim, e eu estranho para ela. Bom, mas deixe-me contar o porquê se deu o meu amor incondicional pela cidade.

A mãe de um amigo havia morrido e o velório ia ser no cemitério dos Jesuítas, Embu, mas me passaram que ia ser no cemitério da Saudade, Taboão da Serra, grande São Paulo. Vindo de um bar peguei o último ônibus, pois lá, tinha certeza de encontrar uma carona pra voltar. Chegando, descobri que desci no lugar errado, mas sequer sabia onde ficava o outro local, o Jesuíta.

O cemitério da saudade ainda era bem pequeno e haviam dois corpos sendo velados naquela noite, início da madrugada. Um homem baleado e uma criança recém nascida. Diante do meu erro geográfico fiquei do lado de fora, fumando um cigarro e pensando como iria voltar para casa. “Que cidade. Que zica.”, pensei. Aí, estava sentado, um homem chega ao meu lado e diz:

-Você é parente do cara que foi baleado?

Disse que não e expliquei o porquê estava ali. E o engano de cemitério. Disse a ele que não conhecia nada na cidade, e coisa e tal. E batendo esse papo perguntei a ele:

“E você, é parente da criança que faleceu?

Sem levantar a cabeça e num tom de voz que jamais vou esquecer, ele contou:

“Sim, eu sou pai dela.” Falou assim, de bate pronto, como quem suplica um milagre, como quem acredita em ressurreição. Como se esperasse que estivesse tendo um pesadelo.

Entre uma lágrima e outra, disse que ela havia morrido de pneumonia, de como a tinha encontrado e o abraço que deu pensando que ela dormia, a dor… Entre outras coisas que se diz quando perdemos alguém que se ama.

Não disse nada. Nem frio sentia mais. Eu sem saber para onde ir, e ele indo e vindo das fendas escuras da tristeza. Foram as lágrimas mais honestas que já vi brotar dos olhos de um homem, de um pai.

A filha dele morreu e a cidade que acabara de nascer em mim, também agonizava.

Aí, de repente ele me pergunta como eu iria embora. Respondi que iria esperar amanhecer, de pois pegaria o primeiro ônibus. Em meio à dor, ele se ofereceu para me levar em casa.

Eu não aceitei: “O quê é isso, sua filha acaba de morrer e você querendo me dar carona?” Foi quando daquele homem simples e coração arrebentado ouvi umas das coisas mais belas que já ouvi em toda minha vida:

“Minha filha morreu e eu não pude fazer nada para evitar que isso acontecesse, mas a você eu posso ajudar, me deixa te levar em casa…”. Como com anjo não se discute, aceitei o milagre. Como se sua filha também fosse minha acabei chorando junto com ele, e estou chorando enquanto escrevo.

Quando faz frio dôo sempre um agasalho para retribuir o calor humano que recebi, em nome dele e da sua filha que não conheci, mas que já morava no coração desse ser humano que acabou adotando como filho, um órfão da noite fria, que morre de medo de fantasmas.

Por ironia, numa noite de cemitério, nascia mais um taboanense, pra sempre.

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27 de julho de 2007

Como nasce um Taboanense

Poeta Sérgio Vaz

Sérgio Vaz

Essa onda de frio que assola o país nessa semana fez-me lembrar de uma coisa que aconteceu comigo logo que cheguei aqui em Taboão, há quinze anos. Não foi amor à primeira vista. Lembra-se de Caetano em Sampa: “… é que narciso acha feio, o que não é espelho…”, pois é, foi assim quando eu cheguei. A cidade nunca me pareceu feia ou fria, ou coisa assim, apenas era estranha pra mim, e eu estranho para ela.

Bom, mas deixe eu contar o porque se deu o meu amor incondicional pela cidade. A mãe de um amigo havia morrido e o velório ia ser no cemitério dos Jesuítas, Embu, mas me passaram que ia ser no cemitério da Saudade. Vindo de uma balada peguei o último ônibus -pois lá, tinha certeza de encontrar uma carona pra voltar. Chegando, descobri que desci no lugar errado, mas sequer sabia onde ficava o outro local, o Jesuíta.

O cemitério da saudade ainda era bem pequeno e haviam dois corpos sendo velados naquela noite (meia-noite, mais ou menos). Um homem baleado e uma criança recém nascida.

Diante do meu erro geográfico fiquei do lado de fora, fumando um cigarro e pensando como iria voltar para casa. “Que cidade. Que zica.”, pensei. Aí, estava sentado, um homem chega ao meu lado e diz:

– Você é parente do cara que foi baleado?

Disse que não e expliquei o porque estava ali. O engano de cemitério. Disse a ele que não conhecia nada na cidade, e coisa e tal. E batendo esse papo perguntei a ele:

– E você, é parente da criança que faleceu?

Sem levantar a cabeça e num tom de voz que jamais vou esquecer ele contou: “Sim, eu sou pai dela.” Falou assim, de bate pronto, como quem suplica um milagre, como quem acredita em ressureição. Entre uma lágrima e outra, disse que ela havia morrido de pneumonia, entre outras coisas do tipo que se diz em velório. Eu não disse nada. Eu sem saber para onde ir e ele indo e vindo das fendas escuras da tristeza.

A filha dele morreu e a cidade que acabara de nascer em mim também agonizava, quando de repente ele me pergunta como eu iria em bora. Respondi que iria esperar amanhecer. Em meio a dor, ele se ofereceu para me levar em casa. Eu não aceitei:

– O quê é isso, sua filha acaba de morrer e você querendo me dar carona?

Foi quando daquele homem simples e coração arrebentado eu ouvi umas das coisas mais belas que já ouvi em toda minha vida:

– Minha filha morreu e eu não pude fazer nada para evitar que isso acontecesse, mas a você eu posso ajudar, me deixa eu te levar em casa, que assim eu distraio um pouco…

Aceitei o milagre. Chorei quando ouvi isso, e estou chorando agora enquanto escrevo. Nunca mais o vi. Quando faz frio doô sempre um agasalho para retribuir o calor humano que recebi. Doô em nome dele e da sua filha que eu não conheci, mas que já morava no coração do pai. Por ironia, numa noite de cemitério, nascia mais um taboanense, pra sempre.


Sérgio Vaz é poeta, fundador da Cooperifa e o artista mais premiado de Taboão da Serra. Ele escreve como colaborador no Portal O Taboanense desde 2003

ArtigoCooperifaCulturaOpiniãoSérgio Vaz
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