Um milagre chamado Kevin
Por Cynthia Gonçalves - Blog Animal
Costumo dizer que gatos sofrem muito mais preconceito que os cães, de fato a grande maioria são mais ariscos e ressabiados com quem não conhecem. Ao contrário dos cães, os gatinhos não saem abanando o rabo ao menor sinal de carinho. Precisam de tempo, precisam ser conquistados, e principalmente entender que podem confiar naquele humano. Normalmente essa é a única possibilidade de um bichano demonstrar o amor e afeto que são capazes de dar.
Mas até para a conduta dos gatos há exceção, tá aí o Kevin que não me deixa mentir. Faz 3 anos que o resgatamos, um gato amarelo, o mais doce lá de casa. Nós o encontramos com o maxilar e dentes quebrados, um olhinho pra fora, traumatismo craniano, costela trincada, muito magro e debilitado. Segundo o veterinário, os sinais eram claros de espancamento com algum objeto. Alguém teve a covardia de bater tanto nele a ponto de causar danos irreversíveis.
Quando o pedido de ajuda chegou até mim e ele foi socorrido, já fazia pelo menos três dias que o pequeno se arrastava de garagem em garagem, num bairro em Taboão da Serra. Três dias de muita dor, fome, medo que fazia com que ele se escondesse quietinho embaixo dos carros, até que alguém descobrisse o esconderijo e o espantasse de lá.
Ele não comeu nada até a realização da primeira cirurgia, não conseguia mastigar, então começamos a alimenta-lo através de sonda, tratamento que durou três meses. Kevin passou por quatro cirurgias grandes, precisou reaprender a comer, aos poucos foi se readaptando as suas novas limitações. Sem um olho, sem dentes inteiros, com dores crônicas de coluna e traumas psicológicos, o pequeno guerreiro nunca fugiu de nenhum humano que se aproximou dele.
Mesmo depois de tanto sofrimento, quando eu sentava no chão para aplicar comida e remédio na sonda que ajudou a salvar sua vida, ele vinha e se aconchegava no meu colo. Eu era uma estranha e ele não tinha medo, e até hoje faz isso com as visitas em casa, lambe, senta no colo, vira a barriga pra cima. De maneira quase milagrosa a inocência deste ser iluminado não deixa com que ele link as memorias do que passou a todo e qualquer ser humano que se aproxime.
Amo todos os animais, mas sou “gateira” assumida.
Adote um gato! Permita-se conhecer esse mundo mágico que só os felinos podem nos apresentar, eu garanto que depois do primeiro, você terá no mínimo dois. É viciante e maravilhoso!