Taboão da Serra não é a cidade dos sonhos, nasceu por necessidade
Por Dr. Antônio Rodrigues
“Pois o que pesa no Norte, pela Lei da Gravidade
Disso Newton já sabia, cai no Sul, grande cidade
São Paulo violento, corre o rio que me engana”
(Fotografia 3×4, Belchior)
Tal qual grande parte dos municípios criados no entorno da Capital paulista durante a segunda metade do Século XX, Taboão da Serra não se tornou uma cidade como resultado de um processo, gradual e bem demarcado no tempo e no espaço, de ocupação humana e respectivo desenvolvimento urbano. Tampouco foi um projeto de seus antigos moradores, vinculados político-administrativamente, em diferentes momentos, à Itapecerica da Serra, Santo Amaro e São Paulo.
Em sua pré-história, nos séculos XVI e XVII, a região que viria a ser Taboão era parte da rota dos bandeirantes paulistas no caminho que percorriam desde o lugar onde viviam, nas imediações daquilo que é hoje o Centro de São Paulo, rumo ao Litoral paulista e ao Sul do país. Não há registro histórico de que a escassa povoação instalada a meio caminho entre São Paulo dos Campos de Piratininga e Itapecerica da Serra tenha, em algum momento, reivindicado um projeto de colonização autônoma do pequeno território a montante dos Córregos Pirajuçara, Joaquim Cachoeira e Poá, diferentemente das próprias cidades mencionadas, ambas formadas a partir de missões fundadas pela Companhia de Jesus, no Século XVI.
Neste sentido, Américo Neto afirma que “a partir da década de 1920, Taboão foi se constituindo em vários polos de povoamento, que iniciavam no marco existente na Estrada do M’ Boy (atual Francisco Morato, próximo aos Pequeninos do Jockey), pertencente ao município de Santo Amaro, seguindo o caminho até Embu (atual BR-116), pertencente à Comarca de Itapecerica da Serra. Portanto, é correto afirmar que Taboão da Serra foi um bairro de Santo Amaro até 1935, como também parte de suas terras pertenciam ao subdistrito do Embu. Somente com a emancipação em 19 de fevereiro de 1959 é que houve a possibilidade de se discutir quais eram as terras exatas do então município de Taboão da Serra.” (“A Origem da Rodovia no Brasil”, in Revista do IHGSP, L1 1977, p.125)
O marco fundacional da Cidade se restringe à Lei nº 5.121, de 31 de dezembro de 1958, que criou o município de Taboão da Serra “com sede na vila de igual nome e com o território do respectivo distrito e território desmembrado do 13.º subdistrito (Butantã) do distrito da sede do município de São Paulo.” Além de Taboão, a mesma Lei criou o município de Embu e mais outros sete na Região Metropolitana, além de dezenas de outros no interior do Estado.
Fica evidente que Taboão da Serra não foi uma cidade sonhada por alguém ou alguns. Na verdade, ela é um produto da necessidade. Foi a necessidade de moradia próxima aos parques industriais e centros comerciais da Capital paulista que impulsionou, desde a primeira metade do Século XX, o crescimento populacional que viria a criar as “cidades-dormitórios” no entorno da Capital, destino de famílias de trabalhadores em busca de terrenos baratos para construir seus lares e deitar raízes.
Muitas famílias vieram para Taboão deixando bairros paulistanos que passaram a se valorizar nos anos 1960 e 1970, a exemplo de Pinheiros e Vila Madalena, porém, a esmagadora maioria dos habitantes após a emancipação foi formada por migrantes em busca de emprego que aqui chegaram com poeira nos sapatos e esperanças no coração, a exemplo de meu pai, vindo do Sul da Bahia (Itabuna), e de minha mãe, natural do Sudeste de Minas Gerais (Guiricema).
Igual a milhares que vieram em busca de trabalho e uma vida melhor, meu pai e minha mãe sobreviveram em São Paulo ajudando, com sua força de trabalho, a realizar os sonhos de seus empregadores, ao mesmo tempo em que, movidos pela necessidade, construíram o mundo em que nascemos eu, minhas irmãs e irmãos, a primeira geração do gentílico taboanense.