Não deixe de votar em 2020
Por Juliana Fratini
Se você está pensando em não votar este ano, anular o voto, ou votar em branco, você precisa ler este texto para saber que as consequências dessa ausência podem ser desastrosas. Se você desiste de escolher quem vai administrar a sua cidade, alguém vai escolher para você – e não significa que você vá gostar desta escolha. Na pior das hipóteses, para conservar a sua autonomia, é preferível que você erre tentando acertar do que deixe alguém errar por você.
No cenário de 2018, de depreciação política e polarização, muitos eleitores se sentiram desmotivados a comparecer nas urnas – mais de 42 milhões não votaram. Se ausentar é, muitas vezes, uma forma de protesto; mas um protesto que pode comprometer a democracia, porque não contribui com a alternância de ideias, nem de poder.
Se você está descontente com os políticos atuais, escolha novos. Se você está insatisfeito com o sistema, escolha candidatos que possam aperfeiçoá-lo. Se você acha que existe muita corrupção, escolha quem você acredita que vá atuar de maneira diferente. O importante é escolher, e fiscalizar. O seu voto poderá compor uma maioria capaz de fazer melhores escolhas do que as maiorias atuais têm feito.
De acordo com informações da Justiça Eleitoral, em 2018 79,67% dos cidadãos aptos a votar foram às urnas. A ausência de pouco mais de 20% dos cidadãos no processo de escolha das lideranças políticas representa muita coisa. Naquele ano, 117.364.560 milhões de eleitores votaram no primeiro turno, quanto 147.306.275 milhões poderiam votar. O desinteresse ou aversão do público com a política é notório e nada trivial.
Se o número de votantes ausentes no primeiro turno já se mostrava significativo, no segundo turno, a situação foi ainda pior: 115.933.451 milhões de eleitores (78,70%) compareceram às urnas – ou seja, 1.431.109 milhões de pessoas a menos em relação ao primeiro turno.
Entre os votos válidos (aqueles que são destinados a candidatos nominais ou na legenda), portanto, sem contar os “nulos” e “brancos” (aqueles que não fazem parte dos cálculos eleitorais), o número foi ainda menor: 104.838.753 milhões no segundo turno. Ou seja, durante o processo eleitoral, mais de 42 milhões de votos foram “perdidos”.
Mais de 42 milhões de votos perdidos é um número excepcionalmente alto, sobretudo considerando que Jair Bolsonaro recebeu, naquela eleição, mais de 57,7 milhões de votos, enquanto Fernando Haddad recebeu pouco mais de 47 milhões. Neste sentido, é possível dizer que os eleitores “ausentes” representaram uma “terceira via” da descrença com a política institucional.
Os 42 milhões de eleitores descontentes, caso tivessem mais bem articulados no primeiro turno, poderiam, juntos, ter escolhido um candidato melhor para disputar o segundo turno das eleições 2018. Se você está descontente, você não é único. A ausência do eleitorado no último pleito foi importante para mostrar que a política requer candidatos melhores e mais competitivos; agora em 2020 é preciso que esse eleitorado se una em torno de opções melhores para que a democracia possa contar com a participação de lideranças novas, com propostas diferentes.
Se quer protestar, vá às urnas e escolha candidatos diferentes, e não os mesmos. Essa mudança de postura vai contribuir para a atualização e melhora da qualidade da democracia. Você é o cliente, e na democracia quem manda é o cliente.
Juliana Fratini, cientista política