Inteligência Artificial: seremos substituídos pela IA ou não?
Por Dr. Antônio Rodrigues
Todos os dias ouvimos falar sobre a substituição de trabalho humano pela Inteligência Artificial (IA). Somos assombrados por previsões de um futuro no qual nossa espécie será dominada ou mesmo extinta pela IA. Seria esta tecnologia uma criatura prestes a se voltar contra seus criadores?
A má notícia é que, mesmo entre especialistas no assunto, não há consenso na resposta a esta pergunta. Neste contexto de incerteza e ansiedade, escolhi acreditar que a humanidade será capaz, no futuro próximo, de usar as IA’s de modo compatível com o desenvolvimento social e a felicidade humana. Bem verdade que ser otimista ou pessimista depende mais do sentimento que da razão… Mas a boa notícia é que não estou só!
Destoando das previsões apocalípticas, Daron Acemuglu (Prêmio Nobel de Economia de 2024), projeta que a IA terá impacto econômico modesto na próxima década, automatizando apenas 5% das tarefas humanas e incrementando cerca de 1% ao PIB mundial. O professor do MIT, numa abordagem realista e pró-humana, argumenta que a IA atual é limitada pela complexidade das tarefas do mundo real, as quais exigem julgamento crítico e inteligência social, sendo improvável a eliminação de profissões que exigem tais qualidades. Na sua visão, o valor da IA não está na automação, mas no “aumento das capacidades humanas” e na inovação, por isso aconselha as lideranças mundiais a focarem numa “integração sinérgica” entre IA e talento humano, criando um novo valor.
De fato, algumas tarefas estritamente operacionais estão sendo automatizadas, porém, aquelas tarefas dependentes das chamadas “soft skills” (habilidades comportamentais), tais como comunicação eficaz, adaptabilidade, inteligência emocional, pensamento crítico, trabalho em equipe, gestão do tempo e liderança, continuam sendo indispensáveis. Assim, precisamos cada vez mais de pessoas para gerenciar, orientar com ética e dar o contexto humano às decisões das IA’s.
É verdade que a IA consegue compor uma música ou fazer um poema, mas não sabe o que é sentir saudade ou uma dor-de-cotovelo; a IA pode escrever um romance, mas não viveu os anos 80. Ela não sabe como é o cheiro da casa da avó ou a emoção de ver seu time campeão. A IA pode auxiliar no preparo de uma aula, mas para inspirar e motivar a aquisição do conhecimento é preciso empatia e liderança!
As vivências que formam a nossa cultura, nossa empatia e nossas conexões sentimentais genuínas são exclusivamente humanas: um diagnóstico médico pode ser auxiliado por IA, mas a conversa (às vezes difícil) com o paciente, a leitura da ansiedade no olhar, a decisão de tratamento ponderando fatores como qualidade de vida e expectativas do paciente… Ah, isso é muito humano!
De fato, o desafio da humanidade não é pesquisar IA’s cada vez mais poderosas, mas democratizar o acesso à tecnologia e desenvolver a sabedoria para usá-la. O controvertido pensador Yuval Harari afirma que precisamos “construir mais confiança entre os humanos antes de desenvolver IA’s superinteligentes. Os humanos governam o mundo não por serem mais inteligentes que os chimpanzés, mas porque sabem cooperar em grande escala.”
Cooperação, neste caso, exige compromissos socioambientais e ético-políticos. Sabemos que a IA é fantástica em realizar tarefas para as quais foram programadas: analisar montanhas de dados, encontrar padrões e otimizar processos. Ela não tem (ainda?) intenção ou consciência próprias. Ela só “faz” – e só faz bem – o que nós a ensinamos a fazer, por isso deve ser tratada como uma ferramenta extraordinária a serviço da humanidade.
Além dos compromissos sociais que devem regular seus usos, a própria tecnologia esbarra em limitações econômicas: manter e atualizar sistemas de IA de alto nível consome uma energia brutal e recursos imensos, tornando o trabalho humano não só desejável, mas também economicamente viável e competitivo em muitos setores.
Então, a questão talvez não seja “quando seremos substituídos?”, mas “como nos adaptaremos, individual e socialmente, às novas tecnologias?”. Quero crer num futuro em que não haverá uma disputa “humano x máquina”, mas uma “integração sinérgica” na qual o uso das ferramentas incríveis de IA potencializarão a criatividade, a inteligência emocional e os valores que (ainda?) não podem ser obtidos a partir do aprendizado de máquina.
É uma escolha humana fazer com que a IA nos torne mais valiosos do que nunca.
* Este texto só foi escrito por causa do Educador @jonasnaia, autor do “Manual de Sobrevivência do Docente no Século XXI”.
Foto: NickyPe / PixaBay