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24 de março de 2025

As asas e as raízes dos inocentes do Pirajuçara

Por Dr. Antônio Rodrigues

 

O Vale do Pirajuçara era um território esquecido pelo planejamento público nos anos 1970. Para quem vinha da Capital na época chuvosa, o lamaçal começava logo depois da “pracinha”do Campo Limpo e, na estiagem, a poeira vermelha.

Quando criança, indo com minha mãe a Pinheiros ou Santo Amaro, saindo do Jd. São Salvador, mais de uma vez senti náuseas e vomitei nos ônibus da “Viação Campo Limpo” após ultrapassarem a tal “pracinha”. Hoje, acho que o ar puro e o cheiro de mato no percurso da Av.Kizaemon Takeuti neutralizavam o fedor do óleo queimado que aplicavam nos assoalhos dos ônibus– pasmem – para “limpá-los”!A partir do Campo Limpo, o cheiro nauseabundo juntava-se à abundante fumaça preta dos ônibus e caminhões. O estômago infantil revirava…

Entre a meninada moradora dos loteamentos irregulares da região do Pirajuçara(ou seja, bairros loteados ilegalmente, sem saneamento, calçamento ou iluminação), as brincadeiras na rua eram o único prazer permitido.Corríamos de lá para cá, mal calçados ou descalços, inventando estórias e brincadeiras com pedaços de pau,frutos da mamona, latas e pneus velhos etc. A rua ou algum terreno baldio eram nossos campos de futebol ou teatro.

Os inocentes compensavam a penúria com a criatividade:um carrinho de rolimã virava um Fórmula 1; uma pipa no céu era motivo de orgulho e competição (“manda busca!”); na primavera, caçar e comer tanajuras eram provas de coragem e disposição…Por outro lado, a periferia tinha suas regras estritas:os inocentes aprendiam cedo a dividir o lanche, a respeitarem os mais velhos e a não se meterem em confusão.

Muitas mães e pais trabalhavam o dia todo.Mal sumiam no horizonte,os inocentes começavam a descobrir o mundo sozinhos, com olhos curiosos de quem ainda não tem medo de errar. A violência estava às voltas, mas a solidariedade ainda era mais forte:a vizinhança emprestava óleo, açúcar, “tomava conta” da segurança das crianças etc.

Nos anos 1970, os muitos bairros periféricos lá do Vale do Pirajuçara eram as “quebradas” e, ao mesmo tempo,os centros do universo das crianças que foram destinadas a viver ali. A“Cidade”era longe, no “Centro”,a “duas conduções” de distância.Lá havia arranha-céus, comodidades e sonhos talvez inatingíveis para os inocentes deste“outro lado da ponte”.

Contudo, o poeta disse com sabedoria que“todo menino é um rei”. Sim, nosso reino foi de lama e de poeira e de todas as agruras das beiradas esconsas da Metrópolis, mas também foi um reino modelador de caráter e motivador da esperança e da fé.

Meio século passado,não mais inocente,olho para trás e compreendo que a minha “quebrada”me deu asas, mesmo que naquele tempo eu não tenha percebido.

E compreendo também que no barro em que tanto pisei estão plantadas as raízes que me mantém em pé.


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