Amor, perda e luto

Ele foi como dizem “a raspa do tacho” o mais novo entre os irmãos, o último resgate que se tornou parte de nossa família, lindo e encantador aos olhos de quem o conheceu e ao coração de quem teve o privilégio de conviver com ele.

Alface, nosso “di menozinho” com sete aninhos, o filho mais doce, carinhoso e cheio de vida, aquele que é grude sabe? Sua maior alegria era dormir todas as noites de conchinha com as mamães e ficar junto com o irmão Kevin fazendo sanduíche de nós, por onde andávamos ele se entrelaçava em nossas pernas, fazia montinho embaixo das cobertas esticadas nas camas em dias frios.

Brincalhão e boa praça transitava por todos os espaços da casa onde tem irmãos felinos, pra quem não sabe gatos tem seus grupos fechados, mas não para o Alface, todos aceitavam sua presença, não havia briga com ele, apenas amor.

Se meu filho pudesse me sentir nesse texto eu gostaria de dizer que não estávamos preparadas pra te perder. Tudo foi tão repentino e fora do nosso controle, fizemos o que podíamos, mas a medicina não foi suficiente, você não vai viver todos os anos que ainda tinha pela frente nesse mundo ao nosso lado.

Por aqui um vazio toma conta de nós, as lembranças passam como um filme, buscamos vídeos, fotos, os olhos lacrimejam sem controle, acompanhados da angustia que também perdeu o freio. O sol frio que brilha lá fora me traz a lembrança de seus olhinhos azuis apertados olhando pra ele, narizinho rosa todo contornado de preto se movimentando e sentindo o cheiro do vento, pelagem cinza com manchas mais escuras, uma bela pintura nascida de uma gata de rua que deve ter sido linda também.

Ontem a moça do crematório pet me avisou que seu corpinho já foi cremado e que você volta pra casa em dez dias, parte de você vai voltar pra nós, mas a outra parte nunca saiu daqui dos nossos corações.

Sabe meu amor, sua partida nos mostrou quem são as pessoas que devemos ter ao nosso lado, você foi embora e deixou claro quem se importa com a nossa dor, quem respeita a nossa família, porque sim, está doendo e não precisamos de quem não entende isso perto de nós.

A conduta cruel da sociedade em minimizar a dor de quem perde um filho que não é humano continua tão “normal”. Não era apenas um gato, era um dos nossos filhos, dizem que a maior dor é o luto de uma mãe, pois então… já passamos por essa dor oito vezes, ainda passaremos por mais treze, e todas serão extremamente difíceis, mas sua morte chegou inesperada.

Ainda estamos perdidas por aqui, com saudades e um sentimento sufocante que nos faz respirar fundo, fechar os olhos e seguir, porque a vida nos impulsiona ao próximo passo. Acho até que a ficha de que seu ronronar nunca mais será sentido por nós, ainda não caiu.

Estamos com saudades e torcendo para que você tenha sido recebido por seus irmãos num lugar lindo, sem crueldade, nem dor.

A vocês que acompanham esse blogue, peço que respeitem a dor das pessoas próximas que perdem seus filhos de quatro patas, tenham empatia, liguem, mandem uma mensagem de amor, vá até eles apenas para dar um abraço. Nossa família existe, é real, a dor do luto também.